Texto: Marc Brito
Fotos: Iana Domingos
Com casa lotada e encontro de gerações, Sepultura inicia "Celebrating Life Through Death", a tour de despedida na cidade onde tudo começou
Belo Horizonte - a cidade onde tudo começou à 40 anos - foi a escolhida para receber o primeiro show da turnê de despedida do grande baluarte do metal brasileiro. Se o bom filho à casa torna, pelo visto a recepção é calorosa.
Um encontro de gerações se fez presente aos milhares nos entornos dos Arena Hall no primeiro dia de março de 2024. Em meio aos abraços nostálgicos das inúmeras figuras históricas da cena metálica mineira, uma nova geração também se fez presente nessa celebração: muito além de uma turnê de despedida de uma banda, mas o fechamento de um ciclo. O fim de uma era, sobretudo numa cidade cuja cena da música extrema permanece tão viva e sob uma memória absolutamente presente e cotidiana da sua maior vanguarda: SEPULTURA.
Já com a casa consideravelmente cheia, o EMINENCE iniciou os trabalhos. Banda já conhecida pelo público local agitou um setlist curto, mas eficaz. Em um dia regado a tantas emoções, o vocalista Bruno Paraguai aproveitou para saudar sua companheira Dayanne, que está grávida de gêmeas, arrancando aplausos da multidão.
O Eminence é uma banda que conquistou reconhecimento nacional e internacional e já rodou o mundo com turnês que passaram pela Colômbia, Nova Zelândia, EUA, Suriname e China, se apresentando em eventos importantes. No momento a banda está divulgando o sexto álbum, "Dark Echoes" e estará também acompanhando o Sepultura no show de Juiz de Fora.
Muito se comentou nos últimos dias sobre a escolha do local para o derradeiro show do Sepultura em BH, com questionamentos que giraram em torno, sobretudo, da capacidade do Arena Hall. Muitos defenderam a realização em algum espaço maior, ou mesmo em um dos estádios da cidade. O questionamento me pareceu válido, à medida que os fãs chegavam mais e mais, o que tornou a circulação bastante complicada. Estava realmente lotado.
Durante a preparação do palco, uma transmissão ao vivo do backstage colocou em contato, pela primeira vez na noite, o Sepultura com a massa de fãs que aguardava pelo início do show. Andreas trocou algumas palavras e anunciou que em 30 minutos o show começaria. Isso voltou a acontecer novamente, faltando 15 minutos.
Já com a belíssima estrutura de palco finalizada, o som mecânico deu lugar à introdução do show: o clássico Polícia, dos Titãs, seguida de uma introdução própria. Dentro de alguns minutos e sob forte ovação do público, o Sepultura inicia o setlist com a sequência matadora do Chaos A.D: Refuse/Resist, Territory, e Slave New World.
Obivamente, nesse momento, todas as atenções se voltaram ao recém recruta baterista Greyson Nekrutman, calorosamente recebido pela arena lotada. Greyson já ganhou totalmente a confiança logo de cara, na excelente execução de clássicos consagrados da história do metal brasileiro. Aliás, durante todo o show foi visível a sua empolgação, enorme respeito e senso de responsabilidade para com a história doSepultura e seus fãs – gestos que foram muito bem correspondidos.
O Sepultura apostou num setlist abrangente, apresentando músicas de praticamente todos os discos. Na seguência, após uma breve saudação de Derrick Green, vieram Phantom Self, do Machine Messiah. Dusted e Attitude, do Roots, e Kairos, faixa título do álbum homônimo de 2011. Essa última recebida como um clássico pela maior parte do público presente.
Nesse momento, Andreas Kisser se dirige pela primeira vez ao público. Visivelmente emocionado, agradeceu aos fãs da cidade “onde tudo começou”, saudou Greyson Nekrutman e anunciou Means to an End, a primeira faixa do excelente Quadra a figurar no setlist, e aqui cabe destacar que a adesão das músicas do Quadra é realmente diferente. Vale lembrar que, com exceção do curto show de abertura para o KISS em 2023, o Sepultura não passou por BH durante a tour do Quadra! Nesse bloco houve ainda a aguardada Guardians of the Earth, com introdução acústica lindamente executada por Andreas.
Os discos Agains, Dante XXI e Roorback se fizeram presentes, com algumas faixas que já não eram executadas a quase uma década. Novamente Andreas Kisser se dirige ao público, dessa vez instigando o mosh pit e para anunciar Escape to the Void, do clássico Schizophrenia (numa versão repaginada). Em seguida Kaiowas, na versão jam-session com todos os membros finalizando na percurssão. Sepulnation, Biotech is Godzilla e Agony of Defeat vieram na sequência.
Já no caminho para o encerramento, um dos hinos do metal brasileiro e única da fase pré Kisser: Troops of Doom. Aqui vale um comentário: era grande a expectativa geral pela presença do Jairo Guedz, que costuma subir ao palco com o Sepultura para executar essa faixa nas passagens da banda por BH. Acabou não rolando.
O show terminou no mesmo pique que começou: metralhadora de clássicos e adesão incrível das mais de 5 mil pessoas ali presentes. Arise, Ratamahata e Roots, já com o palco sob as cores da bandeira do Brasil.
"A banda se despediu do palco sob forte ovação do público."
Há informações sobre a gravação de um disco ao vivo durante a tour que conterá 40 músicas, o que consequentemente aponta para uma variação do setlist. Fica a expectativa para conferir, principalmente, algum som do Beneath The Remais, clássico que infelizmente ficou de fora nesse primeiro momento.
Por se tratar do primeiro show da tour e considerando os grandes desafios dos últimos dias, sobretudo a substituição do baterista em cima da hora, o Sepultura entregou um excelente show. Belíssima estrutura de palco, ótima execução, setlist abrangente de boa parte da carreira banda e com grande adesão do público – provando, inclusive, que a grande maioria dos milhares de seguidores nunca deixou de acompanhar a banda.
Set List: BH - 01/03/2024
Foto: Divulgação/Produção
Fica a expectativa para uma possível volta à BH nos próximos 18 meses, quem sabe num local maior, convidados especiais e outra versão de setlist.
Galeria de Fotos:
Comments