Texto: Guilherme Goes
Fotos: André Santos - Credenciado pelo site Headbangers News
Mais uma vez, o Oxigênio Festival, um dos eventos mais queridos do cenário independente paulistano, enfrentou um infortúnio. Na edição passada, em 2023, o evento precisou trocar de local na mesma semana do evento. Já neste ano, a situação foi ainda mais drástica: com a estrutura já montada e o público começando a chegar ao Aeroclube Campo de Marte, a festa teve que ser realocada apenas algumas horas antes de seu início.
Felizmente, o experiente produtor Rafael Piu, a equipe da GIG Music e a assessoria de comunicação da Tedesco Mídia mostraram um profissionalismo exemplar e conseguiram organizar o evento sem maiores transtornos, com o line-up de sábado (3) acontecendo no Cine Joia e o de domingo (4) sendo realizado na Audio.
Aos 45 minutos do segundo tempo…
No sábado, alguns minutos antes das 13h, o público e os profissionais de imprensa foram surpreendidos pelas redes sociais com notícias de que o Oxigênio Festival iria precisar ser transferido de local. Na ocasião, centenas de pessoas já se dirigiam ao Campo de Marte para conferir a abertura do evento, e alguns fãs já até estavam no Aeroclube apenas esperando a abertura dos portões. De forma ágil e prezando pelo conforto das pessoas envolvidas, a organização rapidamente arrumou um transfer para levar o público até o Cine Joia, clube localizado no bairro da Liberdade, região central da capital paulista.
Devido ao imprevisto, o evento começou apenas às 16h50, com quase 3h de atraso em relação ao horário original. Além disso, algumas bandas foram removidas do lineup e as atividades em ativações dos patrocinadores precisaram ser canceladas. No entanto, o público compreendeu muito bem a situação, sem maiores problemas, mostrando o espírito de solidariedade existente no cenário independente.
A responsabilidade de iniciar as atividades musicais do dia coube à banda Backdrop Falls, originária do Ceará. O grupo apresentou um som voltado para o hard rock, com guitarras bem elaboradas e batidas harmônicas, oferecendo uma experiência sonora agradável tanto para os fãs de hardcore quanto para aqueles que preferem algo mais acessível. Para conquistar a simpatia da plateia punk, os integrantes também tocaram covers de “American Jesus” (Bad Religion) e “Blitzkrieg Bop” (Ramones). Sem dúvida, o conjunto representou de forma brilhante a nova onda do rock alternativo no Nordeste.
Seguindo com atrações de fora do estado de São Paulo, a banda Horney, vinda de Joinville, Santa Catarina, mostrou uma curiosa releitura do grunge dos anos 90. Apesar de alguns problemas técnicos com o microfone da vocalista Duda, que comprometeram um pouco a experiência do show, o grupo fez o possível para apresentar as faixas de seu aclamado EP “Knees”, lançado em 2020. Ao final da apresentação, Duda emocionou-se ao expressar que estava realizando um sonho ao se apresentar no Oxigênio Festival, saindo do palco em lágrimas. Sem dúvida, uma das cenas mais marcantes do primeiro dia do evento.
Encerrando o bloco com nomes de fora de São Paulo, a banda goiana Aurora Rules iniciou sua apresentação com uma introdução pesada, levando parte do público a acreditar que se tratava de um grupo com som voltado para o metal extremo. No entanto, o que se seguiu foi uma sonoridade pop punk moderna com influências de metalcore. O set do conjunto contou com a primeira grande participação do público do dia, com fãs presentes na pista acompanhando faixas como “O Espaço”, “Mais Um Dia” e “Pilares”. A banda também destacou que aquele foi um dos shows mais marcantes de sua carreira, não só pela interação com o público e a logística do festival, mas também pelos desafios enfrentados, como o ônibus de viagem do baixista Felipe Borges ter sido incendiado no caminho. Ainda assim, Aurora Rules conseguiu entregar um set vibrante e cheio de energia.
Demonstrando a velocidade e a intensidade do hardcore, um dos estilos mais presentes em toda a trajetória do Oxigênio Festival, a banda Bayside Kings, uma das mais populares da cena atual de Santos, transformou o Cine Joia em um verdadeiro pandemônio com sua apresentação. Para o show, os músicos trouxeram um verdadeiro arsenal de acessórios, incluindo boias e bolas de vôlei de plástico. O vocalista Milton Aguiar também incentivou a interação com o público, permitindo que os fãs pulassem do palco, ampliando ainda mais o clima de euforia. O setlist, predominantemente composto por músicas dos EPs "Existência" (2021) e "Tempo" (2022), destacou a nova fase da banda com composições em português. A apresentação intensa e extremamente divertida, voltada para um público mais diversificado do que o habitual, certamente acabou resultando em novos fãs.
Após a frenética apresentação do Bayside Kings, indo para a reta final do primeiro dia do Oxigênio Festival, Chris Cresswell (Hot Water Music) fez uma brincadeira dizendo que “o seu som não era para moshar”. Em seguida, apresentou um set acústico que serviu para acalmar os ânimos da plateia. Além de músicas de sua carreira solo, o canadense também destacou canções do The Flatliners, banda da qual é frontman e principal compositor.
A seguir, o evento continuou com uma mistura de emoções: o Dominatrix, grupo pioneiro do movimento riot grrrl no Brasil, trouxe um hardcore rápido e com letras de cunho social.
Já o Hateen assumiu a responsabilidade de animar a pista com seus hits que marcaram o emo nacional da década de 2000, como “Quem Já Perdeu Um Sonho Aqui?”, “1997” e “Obrigado Tempestade”, além de um cover de “Crush Us All” do Seaweed.
Depois de um dia agitado, repleto de desafios superados com sucesso, a banda estadunidense Hot Water Music, um dos maiores nomes do emo dos anos 90, encerrou a primeira data do Oxigênio Festival 2024. Esta foi a primeira vez que o grupo voltou ao Brasil em cinco anos, celebrando 30 anos de carreira. O show começou com energia total com "Remedy", a faixa que abre o aclamado álbum "Caution", conhecido como um dos discos mais populares da banda. Em seguida, o set continuou com “Menace”, principal single do novo álbum "Vows", o primeiro trabalho completo com Chris Cresswell, que substituiu Chris Wollard após sua saída por questões de saúde mental. Após a faixa inédita, Chuck Ragan e companhia decidiram revisitar o passado com músicas como “A Flight and a Crash” e “At the End of a Gun”, duas canções marcantes da carreira da banda nos anos 90. Nesse momento, uma pequena parcela do público não conseguiu conter a empolgação e começou a se lançar em stage dives.
Durante um dos intervalos entre as músicas, Chuck Ragan comentou sobre o carinho dos fãs brasileiros pelo trabalho da banda e elogiou o profissionalismo dos organizadores do festival, que se empenharam para manter o evento após diversos imprevistos. O set continuou com uma seleção variada de faixas que cobriram todas as fases da carreira da banda, incluindo as recentes “Turn the Dial” e “After The Impossible”, além de b-sides menos conhecidos como “Rooftops”, “Alachua” e até mesmo “Turnstile”, do primeiro álbum “Fuel for the Hate Game” (1997). Evidentemente, a banda também tocou alguns de seus maiores sucessos, como “I Was On a Mountain”, o single “Drag My Body”, que ajudou a reviver a popularidade do grupo na década de 2010, e a icônica “Trusty Chords”, que foi cantada em uníssono por todos os presentes, encerrando a noite de forma memorável.
Na sua primeira passagem pelo Brasil, em 2017, o Hot Water Music apresentou um set promovendo o lançamento do álbum “Light It Up”. Já em 2019, o grupo tocou o álbum “Caution” na íntegra. Desta vez, a banda ofereceu um setlist mais variado, com faixas de diferentes períodos da carreira. Além disso, a estrutura do Cine Joia e a ausência de grades permitiram uma conexão muito mais intensa entre os integrantes e o público. Com certeza, o Hot Water Music proporcionou uma experiência única e inesquecível para seus fãs paulistanos.
Quer saber como foi o segundo dia do Oxigênio Festival?
Em breve, aqui no Metal no Papel
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